Estou de volta, espero que definitivamente. Foi um longo e tenebroso inverno pra mim e — finalmente — estou entrando na primavera. Precisei me afastar de muitas coisas enquanto tratava uma depressão persistente desde o final do ano passado, mas estou melhor agora. O uso de vários “estou” até aqui foi proposital, minha vida tem se resumindo ao presente, eu preciso ser e estar no aqui e agora.
O começo
Comecei a sentir os primeiros sintomas da depressão há mais de um ano, mas eram controláveis. Como alguém que já passou por tratamento (2017 – 2018), eu meio que sabia até onde poderia ir antes de precisar procurar por ajuda especializada. E o meu limite foi Dezembro de 2023, quando eu já estava chorando diariamente. Teve um dia que simplesmente não consegui sair de casa e ir pra aula e pensei “chegou a hora”.
ADENDO: Eu fiz Psicologia, mas larguei na metade da graduação e, naquela época, eu já sabia que deveria procurar ajuda, mas não procurei. Eram outros tempos, quase 20 anos atrás, e transtornos mentais não eram vistos com bons olhos. Hoje em dia, ainda bem, muitos preconceitos foram superados e podemos falar mais abertamente sobre saúde mental. Não é mais tabu dizer que faz tratamento, toma remédios ou que está com a “terapia em dia”.
No começo do meu tratamento (em Dezembro/23), eu estava um caco total. Larguei duas das quatro matérias que eu cursava na universidade porque eu simplesmente não dava conta (mas as outras duas que fiz foram muito boas). Foi um semestre conturbado pra mim, mas já estou na reta final do curso e comecei 2024 cheia de planos: só dois semestres pra me formar.
Aí veio a greve.

Lockdown mental
Com a greve, que começou em Abril e só vai terminar em Agosto, minha necessidade de sair diminuiu drasticamente. Fiquei muitos, muitos dias em casa jogada na cama (bati 19 leituras de janeiro a junho, entre livros, antologias e uma HQ — deixei tudo registrado no Skoob). Eu já estava tomando remédios e eles me tiraram um pouco da crise depressiva, mas estabilizaram meu humor pra baixo, por assim dizer. Eu não sentia vontade de fazer as coisas, mas me obrigava — quando conseguia — a ir pra academia, cuidar da casa, regar as plantas e lavar o cabelo.
Mas ainda assim, eu pouco saía de casa.
Com isso, fui deixando de conversar com as pessoas e me abrir sobre as coisas que passavam na minha cabeça. Paralelamente a isso, não consegui produzir nenhum episódio do meu podcast, o PudimCast®. Eu parecia ter perdido o jeito com ele, não conseguia sequer escrever pautas novas. Com o tempo, parei de tentar.
Minha criatividade foi morrendo.
No começo de Julho, notei que não criei nada em MESES. Além de ter parado com os episódios do podcast, larguei meus blogs às traças, parei de gravar o Pudim Vlog (que vai ao ar no Instagram, consequentemente parei de postar lá), parei de criar novas páginas pro meu álbum de fotos e parei até de escrever no meu diário (mesmo depois de ter escrito um post sobre os benefícios de ter um diário).
Quando fui juntando as peças do que estava acontecendo comigo, entrei em pânico. Sem minha criatividade, sem uma forma de me expressar, eu parecia estar ficando cada vez mais distante de quem eu sou de verdade.
E aí tomei uma decisão delicada.
O fim do tratamento
Eu decidi parar. Assim, quase sem mais nem menos, eu decidi diminuir a dose dos remédios (desmame) e depois parar com tudo. É errado, eu não recomendo, posso ter uma recaída e ficar pior, mas ao mesmo tempo, depressão é uma doença: você trata, fica bem e para com os remédios. O tratamento que eu fiz me tirou da crise mas, como escrevi ali em cima, estabilizou o meu humor pra baixo, com uma depressão persistente que, independente dos remédios que eu estava tomando (eram 4 por dia e mais um de emergência), não passava nunca. Eu simplesmente cansei. Ah, a terapia também está em dia.
O que tenho feito é continuar me obrigando a ir para a academia, me cuidar mais, prestar atenção à alimentação e repetir para mim mesma que preciso focar no presente e no futuro; o passado é passado. Eu cheguei até aqui, não foi? Consigo seguir em frente. 😌
Daqui para frente
As aulas voltam em 1º de Agosto, então vou precisar voltar a sair de casa, não vai ter jeito. Esses dois semestres que faltam para eu me formar devem ser encurtados por causa da greve, mas não faço ideia de quando realmente vou terminá-los.
No começo de Agosto também devo pegar um treino mais pesado na academia (durante o 1º semestre, passei por picos de treinamento alternando com semanas sem pisar na academia). Exercícios físicos, além de liberarem os chamados “hormônios da felicidade”, fazem bem para a autoestima. Poucas coisas nessa vida são melhores do que terminar uma rotina de treinos, voltar pra casa e tomar um bom banho. Eu, pelo menos, adoro. Antes da depressão pesar, eu estava focada em me cuidar:
Aos poucos devo retomar o ritmo de produção do PudimCast® mas, no momento, ainda estou sem previsão de quando vou voltar a produzir. Nos próximos dias devo lançar um texto no blog, mas ainda não tenho certeza de quando isso vai acontecer.
Sinto que, aos poucos, estou voltando a ser eu mesma — a versão sem depressão. Já estou dormindo sem remédio há algumas noites e foi curioso constatar que meu corpo ainda consegue fazer isso. Talvez sejam os resquícios do remédio circulando pelas minhas veias, mas eles devem sair totalmente do meu organismo logo e, aí sim, estarei por minha conta e risco.
E eu não poderia estar mais feliz e empolgada!
Para quem está passando por isso

Falar de depressão nunca é fácil, mas se você começar a falar dela, encarar e decidir cuidar, ela tem cura. Se você ainda não procurou um especialista, procure, mas não se atenha a apenas um especialista, o tratamento é interdisciplinar e envolve diversos profissionais.
Pode levar algumas semanas até que o tratamento comece a fazer efeito, então é preciso paciência. Alguns dias serão mais difíceis que outros, mas eles vão passar, o sol há de brilhar. 🌞
Ter uma rede de apoio, mesmo que ela seja pequenina, é o que vai te manter de pé dia após dia, mesmo naqueles em que as coisas parecem estar desandando. Essa rede de apoio pode ser formada por profissionais, amigos, parentes e comunidades online.
E o mais importante: Isso vai passar. Eu prometo, pode me cobrar.
Leituras complementares

No site do Ministério da Saúde tem um artigo que fala sobre saúde mental e alguns dos dispositivos criados para cuidar dela. Se você ainda não conhece, vale a leitura:
>>> LEIA AQUI: SAÚDE MENTAL — MINISTÉRIO DA SAÚDE <<<
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são lugares que oferecem serviços de saúde abertos para a comunidade. Uma equipe diversificada trabalha em conjunto para atender às necessidades de saúde mental das pessoas, incluindo aquelas que enfrentam desafios relacionados às necessidades decorrentes do uso prejudicial de álcool e outras drogas. Esses serviços estão disponíveis em todas as regiões e são especialmente focados em ajudar em situações difíceis ou no processo de reabilitação psicossocial.
>>> LEIA AQUI: CAPS — MINISTÉRIO DA SAÚDE <<<
O Hospital Albert Einstein também tem uma página dedicada à saúde mental muito legal. Ela é recheada de informações e também discute o preconceito que ainda existe em torno do tema. Confira:
